Autor: Roberto Gonzalez
Muito antes do lançamento da 3ª geração de indicadores da GRI (Global Reporting Initiative), em 2006, a denominada GRI G3, nos já defendíamos a integração entre informações econômico- financeiras tradicionais e socioambientais, inclusive recomendando às empresas que elencassem indicadores GRI presentes nas notas explicativas.
Nestes primeiros meses de 2010, dois fatos interessantes relativos a esse assunto ocorreram. O primeiro foi durante a conferência do Instituto Ethos, em que, num mesmo dia, foram debatidos o papel dos relatos empresariais dentro das diretrizes da GRI e a relevância do envolvimento dos contadores – em especial os auditores; . Também ocorreu um evento organizado pela TheMediaGroup, em conjunto com a USP, visando um público diferente da conferência Ethos, em que foram debatidos a evolução contábil no Brasil para o IFRS (International Financial Reporting Standars) e como pode ser possível integrá-la aos indicadores GRI; esse evento contou com a presença de Ernst Ligteringen, presidente da GRI e de dois brasileiros com reconhecimento internacional na defesa do IFRS, Nelson Carvalho e Eliseu Martins, além de outros intervenientes (palestrantes). Também foram mostrados casos de como é possível caminhar para integrar as demonstrações contábeis com os indicadores de sustentabilidade.
O segundo fato foi na Conferência da GRI, duas semanas depois, na qual a principal questão debatida foi a integração dos relatos (contábil-financeiro e de sustentabilidade). Logo no início, foi apresentado um vídeo com o depoimento do Príncipe Charles, da Inglaterra, defendendo que a sustentabilidade deve chegar aos relatos contábeis e a formação dos contadores tem que ser revista. Mervin King, presidente do conselho da GRI, também defendeu a reformulação da formação dos contadores. Essas duas declarações me deixaram honrado, já que desde 2005 ministro aulas para futuros contadores na Trevisan Escola de Negócios, na disciplina “Governança e Sustentabilidade”, e sempre ouvi de Antoninho Marmo Trevisan que o contador é estratégico e tem que estar alinhado com a gestão de todas as áreas da empresa e deve ter um conhecimento plural, além do técnico. Por isso, para mim, fica claro que a Trevisan é uma faculdade de visão e não será surpresa nenhuma que os grandes contadores do futuro tenham sua formação básica na Trevisan.
Informação Não financeira
A contabilidade já lida com informações não-financeiras, afinal se espera que uma nota explicativa, que é parte integrante das Demonstrações Contabeis, aborde ,por exemplo, a divulgação não financeira de riscos financeiros da entidade, as correspondentes políticas e os objetivos da administração. Geralmente, as notas explicativas iniciam-se com abordagem sobre as operações ou o contexto operacional e declaram o objetivo social da empresa, e este objetivo deve manter coerência com o objeto social declarado no estatuto social da empresa.
Exemplo de uma informação não financeira retirada das Demonstrações Contabeis: “A participação de refis sobre os itens faturados subiu de 17,4% para 19,8%, o que significa uma relevante redução do impacto ambiental de nossos produtos,
tendo em vista que a média da massa de uma embalagem de refil é 54% menor que a de uma embalagem de produto regular”. Esta, em particular, tem um vínculo integral com a sustentabilidade. E mais cedo ou mais tarde as informações não-financeiras acabam por impactar financeiramente a Entidade.
O CPC (Comitê de Pronunciamento Contábil)
Foi comentado no evento IFRS & GRI realizado no Brasil que o CPC, que emite os pronunciamentos contábeis no Brasil, não tem no curto nem no médio prazo ideia de tratar este tema, mas que é um órgão sensível à demanda do mercado. Por isso, se nos organizarmos e demonstrarmos a relevância que as questões socioambientais têm para que estejam presentes nas DCs, pode ser que o CPC torne-se sensível ao tema, afinal o CPC já tratou sobre a DVA (Demonstração do Valor Adicionado), pois a Lei no 11.638/07 obrigou as empresas listadas em bolsa a publicarem essa demonstração. O interessante é que ela não é exigida pelo IFRS. Portanto, o Brasil mostra um grande avanço que poderá ser seguido por outros países, afinal a DVA é importante à sustentabilidade, já que demonstra como a empresa gerou riqueza e como ela a distribuiu. No caminho da integração entre contábil e sustentável, a DVA torna-se uma demonstração imprescindível.
Outra questão importante e que pode finalmente acabar com as publicações em julho dos relatórios de sustentabilidade é, quecaso exista um pronunciamento oriundo do CPC que trate sobre indicadores de sustentabilidade e a CVM (Comissão de Valores MObiliarios) torne esse pronunciamento obrigatório, provavelmente os indicadores GRI terão o mesmo tratamento que as informações contábeis e poderemos ter um relato publicado em final de janeiro, como ocorre em várias companhias no que se refere às DCs.
Relatórios Integrados
Em um painel, foram apresentados alguns casos de relatório único. Ops, não é integrado? Bem, o que se almeja é a integração, mas o que existe hoje em algumas empresas é um único documento, ou seja, um relatório único com informações econômico-financeiras somadas a informações socioambientais. Não existem relatórios construídos da forma que a produção da informação contábil já leve em consideração a sustentabilidade e o pessoal que produz a informação socioambiental leve em consideração o impacto contábil-financeiro, ou seja, é necessário, primeiramente, existir a integração na gestão, que pode iniciar com a integração de equipes envolvidas na elaboração dos relatórios, para que a empresa tenha, com isso, um relatório integrado.
Artigo publicado na Revista RI – Relações com Investidores n° 144 – junho de 2010